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1930-1940
Ativíssima, nos anos de 1930 e 1940, Anita Malfatti está presente em vários eventos da cidade. Passa a integrar muitas comissões, organizadoras ou executivas, de Salões e de outros eventos artísticos, de ações beneficentes, como a de auxílio destinado aos soldados de 1932, de atividades que dão vida à cidade, como a Festa da Flor, promovida pela Associação Cívica Feminina, em 1935, entre outras.
Anita oferece aulas de desenho no Mackenzie, na Associação Cívica Feminina e, depois, em seu ateliê-residência, onde também monta curso de história da arte com “projeções luminosas”. Decora bailes de Carnaval, ilustra alguns livros e catálogos, assim como também não deixa de participar de Salões de Arte, expondo principalmente o que chama de “Pintura Popular”, que a artista compreende como distante do folclore.
Apesar de sua produção diversificada, de sua capacidade de pintar e desenhar de modos distintos, em exposições que revivificam os modernistas ou são divulgadas como dos modernistas, as telas que Anita mostra são quase sempre as expostas em 1917/18.
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1930
Em mensagem ao Congresso Legislativo, de 14 de julho de 1930, Heitor Teixeira Penteado, vice-presidente em exercício do Estado de São Paulo, refere-se às obras de Anita Malfatti que passam a integrar o acervo da Pinacoteca do Estado. [Cf. Correio Paulistano, SP, 15/7/1930]. A notícia é publicada em jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo, além de constar, evidentemente, dos Relatórios dos Presidentes dos Estados daquele ano.
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Para estranhamento da cidade de São Paulo, ainda pouco acostumada às movimentações artísticas, o arquiteto Gregori Warchavchik abre sua “casa modernista” à visitação pública, certamente uma extravagância. Na casa é organiza exposição com obras de John Graz, Victor Brecheret, Tarsila do Amaral, Oswaldo Goeldi e, entre outros, Anita Malfatti, que está representada com o desenho SECRETÁRIO, um pastel, TORSO, e duas pinturas, HOMEM AMARELO e OPERÁRIA AMERICANA. Exceto a última, hoje desconhecida, as demais obras datam da época dos estudos da artista em Nova Iorque.
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Anita Malfatti auxilia na organização da The First Representative Collection of Paintings by Contemporary Brazilian Artists, exposição enviada ao Roerich Museum, Nova Iorque. A principal responsável no Rio de Janeiro por essa mostra foi a pintora Georgina de Albuquerque, artista também de importância para se entender a arte brasileira e as “modernidades” daqueles anos.
Participaram dessa mostra diferentes artistas; entre os que representam o Rio de Janeiro estão Lucílio e Georgina de Albuquerque, Francisca de Azevedo Leão, Augusto Bracet, Modesto Brocos, Antônio Bonfim, Pedro Bruno, Di Cavalcanti, Henrique Cavalleiro, Carlos Chambelland, Cícero Dias, Levino Fanzeres, Cadmo Fausto, Sara Figueiredo, Gastão Formenti, Maria Francelina, Alberto da Veiga Guignard. Entre os que figuram como representantes de São Paulo estão Antônio Gomide, Aldobrando Casabona, Paulo Vergueiro Lopes de Leão, Pádua Dutra, Paulo Rossi Osir, Tarsila do Amaral, Theodoro Braga, Túlio Mugnaini e, evidentemente, Anita Malfatti.
É o próprio apresentador do catálogo, Christian Brinton, que destaca a variedade de trabalhos, afirmando que, ao lado de trabalhos de tendências “puramente acadêmicas” há os de “espíritos progressivos”, estes “mais simpáticos ao expressionismo do que ao impressionismo”. Mas também observa Brinton que a tendência mais conservadora é da Capital Federal, enquanto São Paulo “deve compreender a vanguarda do modernismo”. De qualquer forma, o objetivo da exposição, como escreve o crítico, foi o de destacar artistas cujo trabalho era “tipicamente” brasileiro! -
The First Representative Collection of Paintings by Contemporary Brazilian Artists_Roerich Museum, NY, 11th to 30th 1930
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Possivelmente, data do final desse ano de 1930 a exposição de alunos crianças de Anita Malfatti. De acordo com o escrito no Correio da Tarde, SP, 1/12/[1930], a pintora crê que todo individuo inteligente e normal pode se expressar pelas “formas” como se expressa pela escrita. Mais ainda, o articulista também escreve que a artista baseia seu “método” segundo a inclinação de cada um, pois na criança a intuição artística é instintiva. Assim sendo, a proposta de Anita é distante do hábito da época, o de se ensinar desenho a partir de cópias de estampas e seguir um treino rigoroso para se aprender técnicas.
No final do ano seguinte, jornais de São Paulo também divulgaram exposição dos alunos de Anita, só que esses do curso que ela oferecia na Escola Americana. [Cf. A Gazeta, SP, 14/11/1931]
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1931
Em 1930, Freitas Valle, senador federal desde 1922, perde seu cargo com a extinção do Senado local. Em 1931, o coronel João Alberto Lins Barros, interventor federal do Estado de São Paulo, “Cria o Conselho de Orientação Artística” com o Decreto nº 4.965, de 11/04/1931, extinguindo o Pensionato Artístico do Estado. Assim, o político Freitas Valle também perde seu “reinado artístico”.
A era Vargas provocou modificações na estrutura política, econômica e social do país. Mas o chamado “academismo”, simbolizado pela ENBA, permanece vivo por longos anos, apesar dos esforços de muitos, inclusive os do governo que procurava, como se sabe, estruturar uma política de “modernização” do Brasil, ainda que duvidosa.
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Em dezembro de 1930, o governo provisório designa Lúcio Costa para dirigir a Escola de Belas Artes, exonerando José Octavio Correia Lima. [Cf. Correio da Manhã, RJ, 10/12/1930]. Em abril do ano seguinte, o jovem arquiteto é congratulado por convidar “para professores daquela escola um escultor e dois arquitetos integrados no espírito moderno, representantes dos ideais estéticos do Brasil novo”. [Cf. Correio da Manhã, RJ, 22/4/1931]
Mudanças ocorreram na Escola de Belas Artes, assim como na estruturação da 38ª Exposição Geral de Belas Artes, que deixou de ser “controlada pelo Conselho Superior de Belas Artes” [Cf. Diário da Noite, RJ, 01/9/1931], então, extinto. Em 1931, a Exposição Geral, conhecida como o Salão, não foi inaugurada, como praxe, no dia 12 de agosto, o que causou muita discussão.
O Diário da Noite, RJ, do dia 13/8 estampa a notícia, lamentando: “O dia de ontem lembrou o início do ensino artístico no Brasil. Por isso mesmo, o ‘Salão’ oficial, desde que existe, foi sempre inaugurado naquela data. Nunca foi mudada. O dia 12 de agosto era o dia dos artistas. Este ano, porém, a inauguração da exposição geral de belas artes foi transferida. [...] É para que o ‘Salão’ perca também essa nota passadista, que tanto envelhece as nossas artes, mormente agora, nesta hora de derrubada do tradicionalismo e da preponderância das correntes extremistas , procurando destruir todo o nosso patrimônio artístico, cimentado nas fontes clássicas.”
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Apesar do pesar do dia 13, em artigo que antecede à inauguração do Salão [Cf. Diário da Noite, RJ, 1/9], muitos esclarecimentos são estampados, inclusive o humor ao momento político: a vitória dos tenentes. Realmente, ilusão do “momento”, pois a oligarquia sempre preponderou no Brasil.
No que se refere ao 38º Salão, vale ler a carta escrita pelo pintor Salvador Pujals Sabaté , publicada no jornal A Batalha, RJ, em 28/10/1931:
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A mudança na data de inauguração da Exposição Geral deveu-se, certamente, às dificuldades de montagem da mostra daquele ano, cuja comissão organizadora optou por não excluir nenhum dos trabalhos inscritos.
Todavia, “o que vai pelo meio artístico”, como escreve o articulista do referido Diário da Noite, de 13/8, é “a notícia de que aquele certame será puramente extremista, não se admitindo nenhum clássico, nem mesmo os artistas ‘hors-concours´”. Alvoroço que se acentuou, segundo relatam alguns jornais, quando se soube que participariam do júri: Lúcio Costa, Cândido Portinari, Celso Antônio de Menezes, Manoel Bandeira e Anita Malfatti. -
Manuel Bandeira, observando a “piada” sobre o momento político, como escreve, publica em jornal de São Paulo resposta ao humor divulgado em periódicos cariocas, afirmando que entre os “tenentes” estão artistas como Di Cavalcanti, Cândido Portinari, Tarsila do Amaral e Anita Malfatti.
Bandeira conclui seu artigo afirmando que, com a queda do ministro Campos, Lúcio Costa também cairá:
De fato, antes mesmo do fechamento do 38º Salão, o congratulado arquiteto deixa de ser o responsável pela direção da principal Escola de Arte do Brasil.
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Marta Rossetti escreve: “capa e contracapa de um cardápio de 25 de maio de 1931. No interior, em papel fino, relação do cardápio e assinaturas dos participantes: ‘Lolita, Alcântara Machado, Couto de Barros, Yan, Anita e João Guilherme’. Título recente.” [Cf. MRB, v.2, p.106]
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O decreto 5.361, de 28/1/1932, reorganiza o Conselho de Orientação Artística do Estado de São Paulo. Nele também constam medidas relativas à Pinacoteca do Estado e à Escola de Belas Artes – que fora inaugurada como Academia de Belas Artes de São Paulo em 25/11/1925, com Gomes Cardim como diretor, Carlos de Campos, então presidente do Estado, como diretor honorário, e o então senador Freitas Valle como vice-diretor honorário. Com o decreto, a Pinacoteca é “entregue à guarda, conservação e responsabilidade da Escola de Belas Artes”.
O Diário Nacional de 26/2/1932 publica lista de adesões ao chá, na Casa Mappin, que os artistas promoveram em homenagem ao secretário da Educação e Saúde Pública, Salles Gomes, e ao diretor da Escola de Belas Artes, Alexandre de Albuquerque, em “sinal de regozijo pela assinatura do decreto”.
Entre vários, compõe a lista os escultores Amadeu Zani, Vicente Larocca, Roque de Mingo, Ricardo Cipicchia e os pintores José Wasth Rodrigues, Oscar Pereira da Silva, Tullio Mugnaini e Anita Malfatti.
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Em Santo Amaro, então município independente de São Paulo, é inaugurado o Parque de Diversões na praça Cândido Rodrigues*. O parque foi decorado com motivos brasileiros, destacando-se “em amplo palco ao ar livre, [...] rica tela focalizando aspectos da natureza tropical, obra da pintora patrícia [...] Anita Maltatti”.
* A Lei nº 3551, 11/12/1936, anexa a praça Dr. Cândido Rodrigues à praça 13 de Maio, permanecendo o nome desta última.
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De abril a maio de 1933, a SPAM promove uma Exposição de Arte Moderna, na qual, além de obras de brasileiros, foram mostrados trabalhos de André Lhote, Constantin Brancusi, Giorgio de Chirico, Robert Delaunay, Pablo Picasso, entre outros. As obras pertenciam a colecionadores brasileiros, como Olívia Guedes Penteado, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral etc.
Correio de S. Paulo, SP, 6/5/1933
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