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1940
Para a inauguração do Estádio do Pacaembu, em São Paulo, é organizado um concurso de cartazes. Faz parte da comissão julgadora Anita Malfatti:
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No início de agosto, Gustavo Capanema, ministro da educação, designa por portaria a comissão organizadora do Salão Nacional de Belas Artes: O. S. Corrêa Lima, Wladimir Alves de Souza, Marques Junior, Cândido Portinari, Oscar Niemeyer Soares Filho e Mário de Andrade. [Cf. Correio da Manhã, RJ, 2/8/1940]
Em 29 de agosto de 1940, Anita envia carta a Mário de Andrade:
Só agora estou sabendo que vocês cortaram o meu quadro que enviei para o Salão Oficial de Belas Artes do Rio de Janeiro.
Foi contra resoluções minhas tomadas já há diversos anos que eu mandei meu quadro para aí. Foi por muita insistência do Professor Campofiorito que o fiz e para aceder ao pedido feito aos artistas na visita que fizemos ao Ministro Capanema e ao dr. Carlos Drummond de Andrade.
Continuo inabalável na minha opinião e critério de que esse meu quadro Época de colonização seja um excelente trabalho.
Lamento a vossa escolha de “júri e seleção”.Cumprimenta,
Anita Malfatti
[Cf. Fundo MA. Arquivo, IEB-USP]
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Algumas desavenças ocorreram entre Anita Malfatti e Mário de Andrade devido às posições e às pesquisas artísticas que ela resolveu seguir, distantes “dos fogos de artífícios da primeira fase inovadora”. [Cf. Notas Biográficas., c.1949. Fundo AM. Arquivo, IEB-USP]
Desde seu retorno de Nova Iorque Anita diversifica, produzindo obras com diferentes faturas e, ao menos desde sua estada na França, ela defende a liberdade artística, como escreve em 1951, visto que para ela a arte “deve ser livre, bela, completamente plástica, moldável para poder mostrar o caráter e a intenção da ideia que inspira o artista”. [Anita Malfatti. A chegada da arte moderna no Brasil. Datiloscrito [C. PESP, 1951]. Fundo AM - Arquivo, IEB-USP]
Acerca da tela COMPOSIÇÃO, escreve a pesquisadora Marta Rossetti : “Motivo de desavenças do escritor com Anita Malfatti, a tela foi comprada por Guilherme Malfatti, que a colocou em destaque em sua residência”. [MRB, 2 vol., p.68]. Esta obra é a que Anita Malfatti se refere na missiva ao escritor como “Época de colonização”.
[VER] desenho preparatório para essa pintura. Coleção de Artes Visuais, IEB - USP.
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A III Exposição da Família Artística Paulista é montada em agosto no Rio de Janeiro, a convite da Associação dos Artistas Brasileiros, sob os auspícios da revista Aspecto, no Palace Hotel. Anita Malfatti novamente expõe com o grupo.
O prefácio do catálogo é escrito por Sérgio Milliet, poeta que passa a se interessar pela crítica de arte. Exageros à parte, Milliet escreve que os artistas da Família foram “ao encontro das aspirações do público, exausto e desiludido ante os malabarismos intelectualizantes que vinham aos poucos destruindo a plástica em nome de doutrinas econômicas e teóricas científicas”.
Em novembro desse ano, Anita Malfatti também participa, com as telas PAISAGEM e BONECA, da Exposição de Pintura e Escultura dos Artistas de São Paulo que concorreram ao Salão de Belas Artes do Rio Grande do Sul.
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1941
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1942
O Correio Paulistano de 20/10/1942 anota recebimento de cartas e ofícios pela Legião Brasileira de Assistência, de pessoas e instituições que se oferecem para auxiliar os que prestam serviços à pátria na II Guerra.
Do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo, a partir de sua presidenta, Anita Malfatti, a Legião recebe ofício que é transcrito em periódico:
“O Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo vem oferecer a colaboração da classe para a execução dos trabalhos necessários à propaganda das atividades da Legião Brasileira de Assistência.
Esses trabalhos incluem a execução de cartazes, camuflagem em geral, decorações de ambientes para festivais e recepções, carimbos, distintivos, uniformes etc...
Aproveitamos o ensejo para reiterar a v. exc. Os protestos de nossa elevada estima e distinto apreço”. [Cf. Legião Brasileira de Assistência, Correio Paulistano, SP, 20/10/1942.]
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1942
O Diário da Noite, por sua vez, publica uma entrevista que faz com Anita Malfatti para saber quais assistências o Sindicato dos Artistas oferece ao país:
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1944
Anita Malfatti expõe, nesse ano, no VIII e no IX Salão do Sindicato dos Artistas, o primeiro montado em janeiro e o segundo em setembro de 1944. Neste último, o Sindicato presta homenagem ao 1º Salão Feminino de Artes Plásticas organizado pela União Universitária Feminina Nacional.
Entre os escritos da artista, encontra-se o que segue, possivelmente texto que ela rabiscou para enviar a algum periódico:
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A Exposição de Artes Plásticas promovida pela União Universitária Feminina, montada no Rio de Janeiro, foi inaugurada sob os auspícios do Ministério da Educação em julho, para cujo catálogo escreve Manuel Bandeira, que destaca Anita Malfatti:
“Do valor da contribuição feminina às artes plásticas no Brasil se pode aquilatar relembrando que uma das expositoras de hoje, a paulista Anita Malfatti, foi que iniciou o movimento modernista no Brasil com a exposição que realizou em São Paulo no ano de 1916 [1917/18], exposição em que, além das próprias telas, influenciadas pelo impressionismo alemão, apresentava alguns quadros cubistas de estrangeiros. Tão profunda foi a impressão causada, que gerou uma total renovação não só dentro das artes plásticas mas ainda no domínio da literatura.”
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Também em 1944, Anita Malfatti participa da Exposição de Arte Moderna organizada, como consta do catálogo, “por iniciativa do prefeito Juscelino Kubitschek de Oliveira”, médico que “continuou a operar todas as manhãs”*. Sobrava as tardes, portanto, para que o "prefeito furacão" remodelasse a cidade de BH.
*[Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2001]
O artigo publicado na Folha de Minas, BH, 31/5/1944, que entrevista Anita, destaca algumas de suas visões artísticas e afirma que ela “teve o mérito de promover em nosso país a primeira exposição de arte moderna”. Artigo que contesta o texto de J. Guimarães Menegale publicado no catálogo da referida mostra levada em maio no Edifício Mariana, em Belo Horizonte:
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J. Guimarães Menegale, um dos organizadores dessa importante mostra comemorativa de Arte Moderna, escreve que Lasar Segall, em sua exposição de “1912 ou 1913, [...] trazia o germe da inquietação revolucionária”, frase que conclui com a afirmativa: “os primeiros estremecimentos de renovação, entre nós, palpitaram então.”
Essa entrada de Segall na luta pelo primeiro lugar começa, entretanto, anteriormente. Em 1943, por exemplo, o jornal Diretrizes pergunta a entrevistados “qual foi a primeira demonstração de arte moderna no Brasil”. Lasar Segall responde ter sido ele, assim como Anita Malfatti que diz ter sido ela. A artista é longamente defendida por Oswald de Andrade no periódico Diretrizes [Cf. Quem foi o dono da ‘Semana de Arte Moderna’, Diretrizes, 17/6/1943]. A discussão sobre o primado terá outras investidas neste e nos decênios sequentes.
Mas, neste ano de 1944, além do artigo da Folha de Minas, publicado em maio, pouco mais de dois meses, também Mário de Andrade publica o texto “Fazer história” na Folha da Manhã, replicando a posição de Menegale. Mário coloca Anita como a artista que o motivou e solicita a testemunharem Menotti del Picchia e Oswald de Andrade .
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J. Guimarães Menegale, por sua vez, já em setembro desse ano, em jornal mineiro editado pelos Diários Associados, responde a Mário de Andrade, esclarecendo que citou Segall como “referência cronológica, não propriamente, à indicação de um fato causal, gerador de um movimento.” E prossegue, afirmando, que pode ser que ele “tenha carregado na mão”, mas não estava “fazendo história”, embora acredite ser difícil esquecer que a exposição de 1913 de Segall “já nos informava sobre as tendências modernistas alemãs”. Termina seu artigo dizendo ter proclamado “a glória da intrépida pioneira, numa homenagem”, e que Anita Malfatti, em carta, lhe “confessou [...] que essa homenagem, numa atmosfera de alta tensão espiritual, foi o mais a que ela poderia aspirar depois de tanta luta e de tanta canseira.”
[J. Guimarães Menegale, Origens do Movimento Modernista, O Estado de Minas, BH, 3/9/1944. Fundo AM. Arquivo, IEB-USP]
Anita Malfatti também envia um cartão de agradecimento a Mário de Andrade:
Recebi com seu artigo o maior conforto moral que tive nestes últimos anos.
Sua coragem foi tanto mais preciosa pois que você não hesitou em incorrer ao desagrado de outro amigo.
Homens como você é que dão coragem ao desalento dos cansados da luta.
Com toda a amizade[Cf. cartão, 18/9/[1944]. Fundo MA. Arquivo, IEB-USP]
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Em novembro de 1945, Anita Malfatti monta exposição individual no Instituto dos Arquitetos.
Osório Cesar, na Folha da Noite, após destacar a importância de Anita para a arte moderna, observa que os motivos regionais de sua pintura são em “técnica primitiva” e que em “seu novo estilo a pintura é plástica e os planos obedecem à perspectiva de profundidade”.
Dias depois, Tarsila do Amaral, que por vezes publicava textos sobre arte, também escreve para indicar essa exposição. Em seu texto, Tarsila escreve que Anita expõe algumas obras que foram apresentadas em 1917 e conta a história do início da carreira da artista, reafirmando que “todos [...] reconhecem em Anita uma precursora”:
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