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1926
Em 20 de janeiro desse ano, Mário de Andrade envia carta a Anita Malfatti, em que diz lhe remeter um exemplar do Losango cáqui, livro que lhe dedicou:
[VER] Exemplar de Sérgio Buarque de Holanda, de Losango cáqui, com dedicatória de Mário de Andrade ao historiador, atualmente na biblioteca da Unicamp.
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1926
Em 20 de janeiro desse ano, Mário de Andrade envia carta a Anita Malfatti, em que diz lhe remeter um exemplar do Losango cáqui, livro que lhe dedicou:
[VER] Exemplar de Sérgio Buarque de Holanda, de Losango cáqui, com dedicatória de Mário de Andrade ao historiador, atualmente na biblioteca da Unicamp.
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A 37ª Exposition Societé des Artistes Indépendants é inaugurada em março de 1926. Nela Anita Malfatti mostra INTÉRIEUR e PORTRAIT, pinturas que são destacadas em revistas parisienses. Evidentemente, a artista escreve a Mário de Andrade contando-lhe a vitória:
“Esta vai extra, como vai você? Como você deve já saber muito animada com meus sucessos de Paris! Tanto medinho você teve, sossegou um pouco este coração atrapalhado? [...] A entrevista no Comoedia foi esplêndida, que gente gentil! Mais 2 revistas já me pediram dados para um artigo e Paris Soir também. Tudo caiu assim do céu de repente. Escrevi uma nota ao Menotti e mandei-lhe as fotos. Se você precisar de pagar algum clichê para alguma revista que você quiser, i.é, achar bom escrever, peça os cobres ao Willy [Guilherme Malfatti], sim? [...] Quero que vocês todos fiquem contentes comigo e isto que consegui aqui representaria muito mesmo para um francês.”
[Cf. carta, 28/3/[1926]. Fundo MA. Arquivo, IEB-USP]
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Em 25 de abril, após ver a revista Comoedie, escreve Mário de Andrade carta a Anita Malfatti, enviada por Evange, prima da artista, que residirá com ela em Paris.
“Recebi anteontem Comoedie com a reprodução do quadro de você. Ah! Anita, enfim encontro de novo a minha Anita estupenda! Dei pulos pulões pulinhos de entusiasmo. Gostei mesmo e gostei muito e sobretudo gostei porque encontrei de novo a minha Anita a Anita do Japonês, da Estudante russa, do Autorretrato e do Homem amarelo. Aquela Anita forte e expressiva, com uma bruta propensão pro desenho expressionista. Esta sim, esta é a querida minha Anita amada por quem bato armas faz tanto e com tanta confiança e gosto! Estou besta de alegria.”
[Cf. carta, 25/4/1926. Fundo AM. Arquivo, IEB-USP]
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Salon des Indépendants
Les Artistes d´Aujourd´hui, Paris, [15/4/1926].
Fundo AM. Arquivo, IEB-USP -
ESTUDO PARA INTERIOR DE MÔNACO, 1925 c.
óleo s/ tela, 22 x 16 cm -
Fundo AM. Arquivo, IEB - USP
Também o décimo-segundo presidente do estado de S. Paulo, Carlos de Campos, cumprimenta Anita Malfatti pelo seu êxito.
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Outro artigo publicado em revista francesa que fala de Anita Malfatti reproduz uma das naturezas mortas que ela pintou.
[Septième Jour, Paris, 9/5/1926]
Fundo AM. Arquivo, IEB-USP -
Em carta possivelmente de agosto de 1926, Anita Malfatti, surpresa, responde à carta de Mário de Andrade de 24 de julho de 1926:
“Você me fala de querer comprar ou o Interior ou a Natureza-morta reproduzida no 7ème Jour.
Fiquei admirada. Você ainda quer quadros meus, puxa! e de mais a mais coisa que não seja da vanguarda. Desculpe Mário, fiquei admirada! O Interior é destas últimas telas a que me é mais simpática. A moldura é prateada o tom é mais verde e azul. Muito clara e como acho mesmo muito bom aqui com preço francês não posso tomar em consideração menos de 3.000 francos. A Nature-morte também é das boas mas o tom é bem quente dando para o ouro, vermelho e o marrom. É somente pouco menor do que o Interior e tem também a mesma moldura lisa pesada das que são fundas (ouro velho). O preço deste último é de 2.000 francos. O Interior mede 60 cm x 74 cm com moldura, 87 cm x 75 cm. A Nature-morte é igual ou pouco menor, ela ainda está no meu encadreur de volta de uma exposição por isso não posso dar nesta carta a proporção exata. Se você quiser pagar em prestações, não faz mal, aliás todos nossos vastos negócios foram desse jeito. Se você achar caro paciência, não faz mal, não me aborreço por isto, visto você possuir já vasto número de pintanças minhas. Quem disse que eu estava em Mônaco enganou-se. Só estive neste verão todo 3 dias em Bruxelas estudando os primitivos flamengos que me encantam sobremaneira.”
[Cf. carta s/d. Fundo MA. Arquivo, IEB-USP]
Na Coleção de Artes Visuais do IEB-USP, que em 1968 incorporou ao seu patrimônio a maior parte da coleção de artes de Mário de Andrade, encontra-se a NATUREZA MORTA referida:
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NATUREZA MORTA, 1925 c.
óleo s/ tela, 54, 6 x 65,4 cm
Coleção de Artes Visuais, IEB-USP -
Mais surpresa ainda ficaria Anita Malfatti se escutasse os comentários de seus amigos, ou “talvez-amigos” que, mesmo diante das críticas positivas que ela recebia em Paris, continuavam a depreciá-la: é o que se infere da correspondência de Mário de Andrade com Prudente de Moraes Neto e com Carlos Drummond de Andrade, de julho e agosto desse ano. Ao primeiro, relata o poeta que escreveu:
“Um artigo de anúncio sobre a coitada da Anita que está penando na Europa e toda a gente fala que completamente estragada. Pelas reproduções que vi em revistas francesas e fiz reproduzir não me parece que esteja completamente estragada não porém essa é a opinião geral. E isso me entristece que você não imagina. A tragédia de Anita é terrível. Lutou contra tudo e soçobrou porque os inimigos eram mais fortes que ela e ainda por cima estava desprestigiada pra consigo mesma por causa dum caso sentimental doloroso. Hoje inda estive conversando com o Brecheret recém-chegado sobre ela e ele me confessou que a pobre quase não faz nada que preste a não ser uns quadrinhos de evasão. Embora isso não me pareça pelas fotografias que vi e lógico que me abateu. Anita quero muito bem e imagino que será terrível se quando ela chegar eu tiver a mesma opinião que toda a gente. Não sei se terei coragem de dizer pra ela não. Creio mesmo que não terei e que a defenderei. Você me conhece bastante pra saber que não é covardia não, antes será um desses cinismos heroicos talvez o mais heroico que eu tenha de praticar pois que é contra mim mesmo.”
[Cf. carta, 28/7/1926. Georgina Koifman (org.). Cartas de Mário de Andrade a Prudente de Moraes, neto, pp. 1197-198]
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Na carta a Carlos Drummond de Andrade, com o artigo que escrevera sobre Anita Malfatti, Mário de Andrade destaca:
“Aí vai pra você mais um artigo meu. É um pouco de bater de caixa pra uma amiga minha. O pessoal aqui não gosta muito dos quadros dela porém eu gosto agora que já estou me libertando também do Modernismo por demais tendencioso.”
[Cf. carta, 1/8/1926. Carlos Drummond de Andrade (org.). A lição do Amigo. Cartas de Mário de Andrade a Carlos Drummond de Andrade. Record, RJ, 2. ed., 1988., p.85]
Neste livro de Drummond consta que o artigo de Mário foi publicado no jornal A Manhã, RJ, 31/7/1925. Mas, possivelmente, há erro de digitação, deixado pela revisão, pois a correspondência é de 1926.
Destaque-se, entretanto, artigo que divulga a artista em data próxima à carta de Mário de Andrade a Carlos Drummond, publicado também em periódico carioca, Gazeta de Notícias, no qual está reproduzida a obra que se vê na revista francesa Comoedia:
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Em setembro de 1926, Anita Malfatti está em Lourdes, de onde segue para Cauterets.
Em um de seus cadernos encontra-se desenho dessa última localidade, dos Altos Pirineus, com anotações de cores dos elementos que compõem a paisagem, um dos modos de Anita pensar suas pinturas.
Anotação para PAISAGEM DOS PIRINEUS, CAUTERETS, 1926 [VER]
Coleção de Artes Visuais, IEB-USP -
Vários artistas estrangeiros residentes na França contribuíram para o restabelecimento da economia do país doando obras que foram leiloadas pelo Salon du Franc. Anita Malfatti enviou FIGURE, uma tela que, segundo jornais de época, foi adquirida pelo governo francês. Todavia, ainda hoje se desconhece seu paradeiro.
“Houve o célebre leilão apuraram com 147 telas, quase 800.000 francos. Minha tela foi rematada pelo État, de modo que ficará para algum museu da França. Que tal heim? Era o meu desejo”
Nessa carta enviada a Mário de Andrade, Anita também conta sobre os preparativos da exposição individual que abrirá em breve.
“Dia 20 de novembro vernissage, às 3 horas précises. E você que nunca está comigo quando preciso de você. Arre que sina! Danei hoje com o Fernand Demeure, mandou-me uns catálogos tristes tudo o contrário do que havia discutido e encomendado. Quase chorei. Não sei se dará tempo para arranjar outros. Estou com uma coleção de telas bem homogêneas. Você sabe que isto de expor diversas tendências não vai aqui. Dizem que a pessoa ainda está nas procuras. Aliás arte é uma eterna procura.”
[Cf. carta, 11/1926. Fundo MA. Arquivo, IEB-USP]
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Em novembro, Anita Malfatti inaugura sua exposição individual na Galerie André, Paris.
Além das obras pintadas na França, expõe a tela ESTUDANTE RUSSA e TROPICAL, esta última retrabalhada, como já assinalado.
recortes de jornais colados em caderno da artista
Fundo AM. Arquivo, IEB-USP -
Críticos de arte de Paris enviavam aos artistas textos que escreveram sobre eles. Na correspondência perguntam se estavam de acordo e pedem correções antes de publicá-los.
Entre esses textos conservados por Anita Malfatti – atualmente no Arquivo, IEB-USP – destaque-se um sobre sua exposição na Galerie André, assinado por Pierre Molé.
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“Fiz minha exposição. Todas as vicissitudes são coisas do passado. Abri no dia 20 novembro com muitos amigos e desconhecidos que vieram me cumprimentar. A galeria é bem simpática e bem colocada sem ser uma galeria de nomeada. Escolhi conforme podia pagar. Somente que a pessoa que se encarregara de convidar os críticos e apresentá-los, não o fez nem apareceu para o accrochage nem durante toda a exposição. O que sim ele tinha tido o cuidado de liquidar tudo (monetariamente) antes da abertura da exposição. Imagine quanta massada eu tive, em escrever particularmente a esta gente cujos nomes eu não conhecia, colocar os afiches que chegaram atrasados e as reclamações sem resultado dos catálogos. Foi uma experiência única creia-me. Só sei que diversos destes críticos começam a me visitar e escrever agora que está tudo acabado. Quando isto tudo, mais os artigos, deveriam de ter saído com 15 dias de antecedência. Contudo vendi 2 quadros e duas aquarelas. Também um grande erro meu foi não ter tido uma boa apresentação como prefácio. – Isto eu julgava ser superficial. Gastei uns 2 mil francos para aprender estas coisas mínimas. O que sim posso ainda dar graças a Deus pois cobri minhas despesas, aprendi a tratar galerias e procurar críticos enfim toda esta parte que acho tão difícil, 10 vezes mais do que pintar telas. Tenho como que uma força contrária que me prende quando devo tratar do réclame do meu trabalho.”
[Cf. carta, 23/12/1926 de Anita Malfatti a Mário de Andrade]
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CHANSON DE MONTMARTRE [COMPOSITION], 1926
óleo s/ tela, 73,3 x 60,2 cm -
MOÇA COM XALE, anos 1920 ou anos 1940
óleo s/ tela, 74 x 61 cm
Museu de Arte Brasileira, FAAP-SP -
Caderno de desenho de Anita Malfatti. Coleção de Artes Visuais, IEB-USP
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1927
Em carta de 17 de março desse ano, Anita Malfatti escreve a Mário de Andrade dizendo que recebeu “convite” para expor no Salon des Tuileries, mostra na qual expôs “O retrato de Elvira e uma nature-morte”. Conta a artista que viajará para a Itália em abril e que desenhou “toda esta manhã” “coisas flamengas” e acrescenta:
“Leio sobre Cranach. Como é puro e feio e lindo! Sempre é o mais poeta destes flamengos.”
[Cf. carta, 17/3/[1927]. Fundo MA. Arquivo, IEB-USP]
Em junho, de Florença, escreve novamente ao amigo contando sobre as cidades que conheceu na Itália e sobre as pessoas que encontrou – como Zina Aita em Nápoles –, e sobre a cópia que faz da Madonna del Magnificat [pintura de Sandro Botticelli, 1481, conservada na Galleria degli Uffizi di Firenze]:
“Preparei no ateliê dela [Zina] o desenho do Bot [Botticelli]. E quando cheguei aqui [Nápoles] estava de dimensão errada e perdi meu enorme trabalho. Nunca trabalhei tanto como em Napoli. [...] Minha gente seguiu de Pisa para Paris e eu voltei onde continuo a trabalhar por uns 2 meses até para terminar [a cópia da Magnificat]."
[Cf. carta Florença, 21/6/1927] Fundo MA. Arquivo, IEB-USP]
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Em setembro desse ano, Anita Malfatti também copia, como escreve, a “Madonna de Rafael”: trata-se da obra de Raffaelo Sanzio intitulada Bella Giardiniera, de 1507, conservada no Louvre.
Essas pinturas-cópias, assim como as demais que Anita Malfatti realiza a partir de “quadros célebres”, foram feitas para “atender” às exigências da pensão, de acordo com o que rege o Decreto que “Crea o Pensionato Artístico de S. Paulo”. [Cf. Decreto 2.234, 22/4/1912]
No ano seguinte, 1928, Anita também faz cópias das obras: Des Glaneuses, 1857, de Jean-François Milliet e Femmes d´Alger dans leurs appartements, 1833, de Eugène Delacroix, ambas também conservadas no referido Museu Francês.
Em carta a Mário de Andrade de 25/3/1928, adiante destacada, Anita escreve sobre as obras que decidiu entregar ao governo.
Estudo de Bella Giardiniera
Caderno de desenho de Anita Malfatti
Coleção de Artes Visuais, IEB-USP -
No início de 1927, Anita Malfatti participa do 38º Exposition Societé des Artistes Indépendants, com uma NATUREZA MORTA e a boneca DOLLY. Em abril, está expondo, a convite, no 5º Salon des Tuileries. Em novembro participa do 20º Salon d´Automne.
Em novembro, Anita escreve a Mário de Andrade:
“Amanhã termino minha Belle jardinière no Louvre. Arre! foram 3 meses a copiar uma tela. Também, ficou bem bonitinha! Custou mas foi!
Sabe, estou com duas telas no Salon d’ Automne. Uma delas chama-se Villa d’Este, a outra La femme du Pará. Parece que esta última tem despertado bastante interesse . Foi uma mulher que eu vi num balcão no Pará! Reproduzi-a conforme minha memória ajudava. Penso que você gostará desta tela pois é diferente, mas conserva a mesma fatura dos meus últimos dois anos. Também não quero mais mudar, só desenvolver sempre esta mesma linha.”
[Cf. carta, 14/11/[1927]. Fundo MA. Arquivo, IEB-USP]
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Caderno de desenho de Anita Malfatti
Coleção de Artes Visuais, IEB-USP -
Caderno de desenho de Anita Malfatti
Coleção de Artes Visuais, IEB-USP -
Caderno de desenho de Anita Malfatti
Coleção de Artes Visuais, IEB-USP -
Em carta de novembro de 1927, certamente respondendo ao pedido de Mário de Andrade que lhe solicitara para escrever algo que depois publicaria, Anita Malfatti conta-lhe o que procura em sua pintura:
“Vou pois contar um pouco da minha pintura. Continuo a trabalhar livremente sem seguir escola fixa, nem professor algum. Estou portanto bem dentro da minha época. Não me preocupo como nunca me preocupei com originalidade. Esta nota vem por si. Procuro dentro da composição simples, direta e equilibrada o máximo da sutileza na qualidade da cor. Tento conservar o desenho e os valores sempre justos e severos. Explicaria melhor dizendo que toda a poesia do meu trabalho está na cor. É na cor que sempre procuro dizer o que me comove. Na minha composição a forma e os valores sujeitos às leis imutáveis da ciência da pintura. Meus quadros não são coisas do acaso. Resolvo todos os meus problemas com antecedência depois executo rápido. Quando me deixo levar pela tentação do improviso é um não mais acabar de desespero dúvidas e impotências. Em Florença aprendi a fazer as incisões e a aplicar o ouro como os antigos. Há 3 meses que vou ao Louvre todos os dias. Estou pondo os últimos toques na Belle jardinière de Rafael. Copiarei mais a Femmes d’Algier de Delacroix por achar que este quadro marcou uma época. É distintamente a nota de transição entre o velho mundo e o novo. Vejo agora tão claramente que toda a arte moderna sugou sua ciência da antiga e se as mesmas regras básicas não se encontrassem em ambas, não poderia haver compreensão entre uma e outra. Será que toda a nossa revolução nos trará o fruto de uma nova Renascença? Quando formos velhos talvez possamos assistir ao novo milagre dos séculos!”
[Cf. carta, 17 e 18/11/1927. Fundo MA. Arquivo, IEB-USP]